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Com grande alegria se faz chegar a quinta edição da seção Devaneios Mentais. Após três textos onde se faziam aparecer a realidade, e o quarto que era uma inocente poesia infantil, a quinta parte falará sobre fantasia. Será sobre uma fantasia nada amigável e, até certo ponto, desesperadora.
Você connhecerá um homem chamado Kraw. Alguém que perdeu tudo em razão de uma forte invasão alienígena na Terra e que encontrará, nos braços de uma pequena e frágil garotinha chamada Beatriz, uma razão para poder defender alguém em sua vida...
Leia este texto. Desenvolva uma opinião sobre ele. Instigue a sua curiosidade até um novo nível e, quem sabe, consiga colocar-se no lugar de Kraw. Tenha uma boa leitura.
#5 - Na destruição há uma gota de esperança!
A guerra pode acabar com tudo. Ou melhor: quase tudo...
Estamos no século XXI. Na verdade, a Terra se aproxima do final de mais um período compreendido à cada cem anos. Em meio à tantas guerras que já se fizeram ocorrer na história da humanidade, de alguma forma as mesmas eram cessadas (mesmo que por um curto espaço de tempo) e mais tarde voltavam. Um verdadeiro ciclo compreendido pela busca do poder e da autonomia total. Este cenário fez a humanidade não evoluir nem a metade do que antes se fazia imaginar mas, ainda assim, estava chegando à virada de mais um século...
Mas o maior pergunta que o homem fizera durante tantos séculos teve uma resposta. Fria, sanguinária e destrutiva. Eram os Wetoins, seres oriundos de algum ponto ao extremo oeste da galáxia onde está a Terra. Eles vieram ao planeta azul na busca dos recursos naturais que, muito embora escassos, eram muito importante para tal raça. Entretanto, a intenção da raça wetoin era dizimar por completo a raça humana. Um ardiloso plano foi arquitetado durante anos, até a invasão ser consumada faltando poucos anos para a virada de mais um século.
Grandes metrópoles do mundo se converteram à cinzas em poucos dias. Tóquio, Nova Iorque, Montréal, São Paulo, Buenos Aires, Paris, Moscou, Seul, Istambul: alguns exemplos de cidades de grande importância que se viram diminuídas à escombros, graças aos ataques de poderosos Wet-ZX, o codenome dado às poderosas naves alienígenas que podiam converter-se em grandes robôs de batalha. Tais monstruosidades tinham uma altura assustadora, como se fossem edifícios de 30 andares ambulantes. Nesta leva, as cidades citadas foram as primeiras à conhecer o real significado da palavra terror...
Mas a Terra possuía as suas defesas...
Durante décadas, cientistas de várias nacionalidades trabalharam no que chamavam de armamento perfeito. Grandes guardiões do mundo estavam sendo criados secretamente, no intuito de proteger a Terra dos ataques mais comuns do espaço, tais como meteoros. Deixando de lado as circunstâncias mesquinhas que a mente humana pode fabricar em larga escala, estes robôs receberam o nome de Pacifators. Cada um deles era operado por um humano, cujo cérebro ficava interligado diretamente à sua máquina. Os Pacifators combateram pela primeira vez os famigerados Wet-ZX na violenta e dolorosa Batalha da Cartagena, em meio ao lugar onde antes ficava pitorescas cidades como a espanhola Barcelona. Os alienígenas conheciam muito bem os pontos fracos dos humanos e estes, por sua vez, chegaram à ganhar importantes batalhas...
Entretanto, muitas cidades simplesmente foram varridas do mapa em apenas seis meses de combate. La Havana, Lisboa, Praga, Caracas, Nova Délhi e Sydney não conseguiram suportar o ataque maciço proveniente dos seres espaciais. Muitos Pacifators foram aniquilados. Em alguma parte da Europa, um grande aviador acabou fugindo de sua nação. Não tinha mais o que lá defender, pois havia perdido tudo que lhe era de mais importante: esposa, filha, pais. Este era Kraw, um homem que à partir dali não mais guerreava para tentar salvar a Terra (até porque, para ele, era fato consumado o destino de toda a humanidade) mas sim para tentar salvar a própria pele, mesmo que precisa-se machucar ou até matar outros humanos para isso acontecer.
Era a loucura da guerra em alto teor...
Kraw possuía muitos atributos físicos necessários para fazer com que uma mulher se derretesse por ele sem pestanejar. Porém ele não era perfeito. Cerca de um metro e oitenta e nove de altura. Meio polaco, meio moreno. Olhos escuros. Forte como um touro mas tão mal educado e sem escrúpulos quanto um cafajeste de esquina. Às vezes um verdadeiro boçal. Havia perdido a fé na humanidade, no mundo, no universo. Queria chutar as bundas dos wetoins por esporte e não pela necessidade que a guerra insistia em lhe lembrar. Mas Kraw possuía um poderoso Pacifator. Ele havia batizado o mesmo de KP. Era os eu único xodó em vida. Nada mais para ele importava à não ser a própria sobrevivência...
Kraw foi para no Brasil... Sim, foi parar na nação que detinha um dos maiores espaços geopolíticos de toda a Terra e que, tal como praticamente todo o mundo, estava sucumbindo à atividade extraterrestre. Não foi apenas São Paulo que conhecera a destruição. Rio de Janeiro, Natal, Brasília, Belém, Salvador... Todas estas cidades viraram apenas lenda. Pouca coisa sobrou para dizer que elas eram grandes cidades, que elas possuíam vida e atividade humana diárias. Que entre problemas e soluções elas estavam lá, de pé... Isto até os Wet-ZX terem atacado para valer o solo brasileiro...
Em outras localidades estavam ocorrendo grandes batalhas pela sobrevivência. Em Manaus, o fogo de partes da cidade se misturava às águas do rio Amazonas, o que proporcionava um momento de rara beleza visual no meio de tamanho conflito. Os céus de Fortaleza e de Recife eram rasgados pelos combates aéreos promovidos entre humanos e wetoins. Nas ruas de Belo Horizonte, Vitória e Florianópolis, os civis tentavam correr para onde se fizesse possível, ao mesmo passo que os extraterrestres também corriam atrás deles. Rio Branco e Palmas também sentiam a guerra ocorrer em suas ruas, onde os Pacifators e os Wet-ZX faziam batalhas colossais e a destruição ia ocorrendo em igual teor. Na cidade de Porto Alegre, o grande Guaíba servia de cenário de guerra tanto quanto se podia notar nos mais distantes locais da cidade.
Entretanto, foi em Curitiba que Kraw acabou aterrizando. Ali, sangrentas batalhas ocorriam em locais que antes eram citados como referência da cidade. A Ópera de Arame não passava de um abrigo aos mais necessitados. Os grandes estádios de futebol se tornaram campos de concentração. Um dos corredores do famoso ônibus expresso servia, apenas, como local onde corpos de humanos e de wetoins aguardavam pela sua decomposição natural. Sangue, medo, terror e pavor. A cidade tentava sobreviver em meio ao caos estabelecido. E pensar que apenas seis meses antes a cidade vivia a sua rotina normal de costume...
Fosse à pé, em seu Pacifator ou em algum veículo abandonado pelas ruas, Kraw desferia o seu ódio desenfreado contra tudo e todos. Estava absorvido pelo anseio em matar. Nada para ele tinha mais valor naquele momento. Caminhava naqueles corredores de corpos em decomposição como uma criança na areia da praia à brincar. No fundo, Kraw sofria muito. Não tinha com quem contar. Pior do que isso era a sua expressão facial sempre séria e ranzinza, como quem está cansado de tudo e de todos.
Proximidades de um lugar chamado Parque Barigui. Tão bucólico quanto o nome fazia sugerir. Aparentemente, a guerra parecia não ter chegado ali. Estava tudo estranhamente normal, a não ser pelo fato de não haver uma alma viva por lá. Kraw caminhava devagar, com uma poderosa arma envolta pelos seus braços. Aquela expressão fria e aquele caminhar incrédulo davam tanto medo quanto encontrar com um wetoin pela frente. Em dado momento, Kraw escutou escritos ensurdecedores...
Uma garotinha estava para ser atacada por três wetoins. Na verdade, Kraw pouco se importava com que estava à ver, ao menos inicialmente. Os alienígenas se aproximavam da pequena garota sem muita pressa. O intuito claro era de matá-la. Do lado da garotinha estavam os corpos de dois adultos, provavelmente os pais dela, tão jovens em seus semblantes e tão simples em suas vestimentas. Kraw começou à ponderar sobre a situação. Graças à isto, o humano totalmente conformado com o presente e o futuro da Terra atirou nos extraterrestres, matando-os sem muita dó. Mas um deles deu um tiro no Kraw, à altura de sua barriga, antes de cair com seu corpo sem vida no lago que naquele parque existe. A garotinha, chorando de tanto medo e apreensiva em seu modo de olhar, correu até Kraw como quem estava á encontrar com o próprio pai para abraçá-lo, após um longo dia de trabalho...
A garota chorava no colo de Kraw, cuja barriga sangrava muito. Ao ser questionada sobre o seu nome, o homem teve Beatriz como resposta vinda da pequenina. Cabelos encaracolados, morena, aparentava ter uns doze anos de idade. Em sua camisa reinava a escrita "Paz e Amor", em quatro diferentes idiomas. Aquilo foi o suficiente para fazer com que Kraw cuidasse da garota, à partir daquele dia. Beatriz, por sua vez, sentia-se protegida pelo seu "novo pai", por mais que o mesmo fosse muito chato e de comportamento extremamente peculiar às vezes...
Não haviam casas próprias. A cada noite uma morada diferente era providencial. O Pacifator de Kraw possuía a invisibilidade como uma de suas características mais interessantes. Entretanto, a mesma consumia muitos recursos de sua máquina. Mas o uso era essencial, pois Curitiba estava sendo duramente atacada pelos alienígenas em razão ser considerada, por eles, como um foco da resistência humana. Na medida em que os dias se passavam, Kraw buscava concentrar-se na grave ferida existente em seu corpo. Beatriz, entretanto, buscava tentar ser uma garota normal em meio ao cenário apocalíptico que a seguia por todos os lados.
Kraw não queria envolver-se afetivamente. Sabia que iria sofrer com isso. Mas também não queria deixar a pequena Beatriz ali sozinha. Sentimentos ambíguos? Na verdade, o próprio Kraw não mais sabia o que queria naquele momento. Beatriz, quando não estava tentando brincar, ficava cuidando do homem cuja fé havia se perdido. A pequenina lhe contava histórias de criança como quem tentava fazer dormir uma bonequinha, na eterna e dócil brincadeira de fingir ser uma mãe. Pobre Beatriz neste sentido, pois provavelmente ela não poderia ser uma mãe naquele mundo, até porque o próprio lugar onde ela "vive" estava perto de ser arruinado.
De alguma forma, todo o carinho de Beatriz fazia com que Kraw começasse, mesmo que timidamente, à sentir um certo carinho e sentimento de zelo pela garotinha. Teve uma oportunidade em que ela chorou no colo de Kraw ao relembrar de seus pais, mortos dias atrás pelos wetoins. O homem, até então do mais puro coração de ferro e sem a mínima vontade de viver por uma causa nobre, acabou encontrando nas lágrimas e no carinho da Beatriz um novo sentido para a sua existência tão vazia até então. Kraw resolveu que iria proteger Beatriz sob qualquer hipótese.
Parecia que a felicidade havia voltado para a vida de Kraw ou, ao menos, a vontade de ter alguém para proteger. Mas em uma certa tarde, a nave começou a perder a estabilidade em sua invisibilidade e ficou visível. Era questão de tempo para que os alienígenas avistassem ao longe o poderoso Pacifator pertencente ao Kraw. Ele a garota saíram rapidamente da casa onde estavam, entraram na grande nave de batalha, e se puseram à sair de Curitiba.
Infelizmente, mesmo sendo um grande aviador e guerreiro, Kraw havia se esquecido de um detalhe muito importante quanto ao seu Pacifator: o combustível dele. A invisibilidade consumiu muito daquilo que a nave de batalha tinha e, por tal razão, a chance de fuga se tornou em uma grande e perigosa incerteza. A situação piorou com a chegada de uma nave inimiga. Era um Wet-ZX pronto para abater o Pacifator onde estavam Kraw e a Beatriz...
Eram muitos os tiros desferidos à nave do terráqueo. A Beatriz gritava de medo. Um dos tiros inimigos atingiu em cheio uma das asas do Pacifator. O fim estava se aproximando para os dois. Nisto, eles estavam sobrevoando uma área da costa brasileira onde havia apenas um vilarejo. Kraw não pensou duas vezes e mandou a Beatriz se preparar para um grande salto, para a sua salvação. Contudo, a garotinha não queria abandonar o valentão Kraw, o que causou um pequeno momento de fúria por parte do brutamontes. Uma pequena discussão sobre querer e não querer ali se iniciou...
Kraw deu um tapa no pequeno rosto de Beatriz. Queria fazê-la entender que aquilo era importante para ele: ver a garota sobreviver. Com um andar calmo, Beatriz pegou um salva-vidas espacial. Ela se dirigiu até a porta de saída do Pacifator e, ao olhar para trás, notou uma lágrima escorrer pelo olho direito de Kraw. Beatriz não se conteve e foi ao encontro deste homem para, uma última vez, abraçá-lo. Um beijinho na testa de Kraw serviu de amuleto de boa sorte ao veterano dos grandes combates. Beatriz saltara do Pacifator...
Nisto, Kraw conduziu a sua robusta nave para a última investida da mesma. De frente à nave inimiga, Kraw atirou o seu último míssil no mesmo instante que o weiton inimigo o fizera. A nave inimiga ainda conseguiu escapar, mesmo com uma grande avaria em uma de suas asas. Mas o Pacifator de Kraw explodiu nos céus, sob o olhar lacrimejante da pequena Beatriz que, em segurança plena, descia rumo ao vilarejo situado à costa brasileira. A garotinha não escondia as suas lágrimas, a sua dor...
Em terra, várias pessoas foram ao encontro de Beatriz. Enquanto isso, a garotinha de doze anos só fazia olhar para cima, chorando copiosamente, gritando "papai" com imensa vontade, no intuito de todos ali ouvirem-na. Ela realmente não mais conseguia se controlar de emoção...
Não se sabe que fim teve tal confronto interplanetário. O que se tem de concreto é que a Beatriz perdeu alguém importante. E que Kraw perdeu a sua vida ao encontrar alguém para proteger. O lado mais duro de um grande conflito não deu margens para um final feliz...
Ainda chora a pequena Beatriz...
- Fim -
- NETOIN! Mais! -
Caramba, Carlírio escrevendo sci-fi com direito a aliens e mechas?! Eu não esperava! Incrível surpresa!
ResponderExcluirE esse nome dos aliens ein? Eu ri XD
Parabéns pela ótima escrita, como sempre Carlírio. Que venham mais devaneios!
Saudações
ResponderExcluir"Um bom escritor se aventura um pouco em todas as áreas"
Esta frase é de sua autoria, amiga Mazaki. Então estou à tentar fazer a minha parte também...^^
O nome dos aliens foi de uma inspiração bem na cara, literalmente. Um certo mascote por aí e...
E grato por suas palavras, Mazaki!
Que continuem os devaneios!^^
Até mais!