A chamada oficial.
[capítulo anterior: aqui]
A Sandra não fazia ideia do que a esperava. Na verdade, ela nem tinha muita noção do risco que podia correr ao tentar ser honesta. Mesmo com tais características pesando contra ela, somados aqueles três mil Reais que ainda cheiravam a cédulas monetárias novinhas em folha dentro daquela bolsa, ela resolveu ir até a delegacia.
O percurso era curto, mas na mente dela parecia ter durado anos. Passo à passo, como quem contava pedras em uma rua sem asfalto, a Sandra continuou a sua caminhada até o julgado lar da justiça e da confiança. Contudo, imperava na mente dela o medo. Jamais ela havia entrado em uma delegacia. Não sabia o que poderia esperá-la lá dentro.
Poderiam estar todos lá dentro esperando pelo dinheiro que ela carregava. Mas isso era algo que a moça carregava em sua mente, pois não tinha como alguém saber de tais valores. A não ser, claro, que o proprietário original daquela quantia desse conta da falta da mesma e fosse à delegacia fazer um boletim de ocorrência (o famoso B.O.).
A Sandra era constantemente apedrejada pelos seus próprios devaneios mentais.
Enfim, ela havia chegado a dita delegacia. Uma porta simples. Passos tímidos adentraram naquele lugar, em uma referência clara à jovem Sandra que ali chegara. Entretanto, uma cena logo no primeiro balcão da delegacia chamou a atenção dela. E provavelmente seria um carma para toda a sua vida, pois ali havia uma senhora de idade clamando por auxílio e misericórdia da policial atendente.
Aquela senhora havia dado todas as características que batiam, exatamente, com o ponto de ônibus no qual a Sandra estivera dias atrás. A senhora explicava à policial que havia deixado a bolsa cair ao entrar no ônibus terrivelmente lotado, que só deu falta deste item horas depois (até porque ela carregava consigo outras duas bolsas fora esta). Desnecessário enfatizar que, embora meio inocente, a Sandra estava achando tudo aquilo muito estranho.
Ainda assim, a moça criou coragem e foi até lá.
A Sandra chegou no balcão pedindo licença e mostrando a bolsa para a policial e aquela senhora. Falou do ponto e que havia ficado com o tem, mais o dinheiro de ali dentro, pelos últimos dois dias, pois não tinha a mínima noção sobre o que fazer. De tudo tinha medo e por aí se seguia. Infelizmente para ela, aquela senhora entrou em estado de nervosismo absoluto após ouvir a Sandra pois, para ela, tudo aquilo não passava de mentira.
A idosa estava totalmente crente de que a Sandra a havia roubado. Além disto ela deu com o dedo na face da moça, dizendo-lhe coisas intragáveis e horríveis. A jovem encheu os olhos de lágrimas e passou a visualizar a policial, no intuito de chamar a atenção da mesma para que interferisse sobre o que ali ocorria. De certa forma a profissional como replicante das leis realmente agiu, mas não da forma que a moça esperava.
Ela, a Sandra, foi acusada de roubo pela policial.
Não adiantaram as explicações. As lágrimas não surtiram efeito. A representante da lei à frente da Sandra deu voz de prisão para a mesma no ato, por roubo qualificado. Parecia que as palavras daquela senhora de idade tiveram um peso maior do que se podia imaginar. Em meio a tal ambiente e situação, a jovem protagonista não pensou duas vezes ao executar a melhor ação possível para aquela ocasião.
A Sandra correu dali em disparada, com a bolsa e o dinheiro que dentro dela estava.
Não havia para o que ligar naquela situação que havia se formado. Chorando e aos berros de inocência, a moça saiu correndo da delegacia. No encalço dela estava a policial e mais outros dois colegas de profissão. Uma quadra de largas passadas e o Astolfo, seu colega de trabalho, aparecera em sua frente. O rapaz nem teve tempo de perguntar sobre o que ali acontecia, pois a Sandra o empurrara pedindo desculpas e continuou a correr sem direção, enquanto os três representantes da lei continuavam a persegui-la.
Ela chorava e gritava, até que...
[som do despertador eletrônico]
Alguém acordou suando frio em um pequeno apartamento, localizado em um bairro de Curitiba. Uma jovem havia tido um estranho e pesado sonho, no qual a polícia a perseguia por causa do dinheiro em uma bolsa. Tal devaneio mental pertence à jovem que vive naquele lugar, sendo que a mesma tinha vindo viver na capital após a morte de seus pais.
Seu nome era Sandra.
Aquele tinha tudo para ser um dia normal. Sem direito à luxúrias, a Sandra se arrumou rapidamente para tomar um café da manhã deveras básico, pois precisava ir ao trabalho. Era cedo demais mas assim era necessário fazer, uma vez que ela trabalha na região metropolitana da capital, em uma área que não tinha integração do transporte coletivo, implicando à jovem ter de pagar por dois ônibus para poder executar as suas atividades empregatícias.
E ela se dirigiu ao ponto de ônibus, com aquele estranho sonho na cabeça.
Ao chegar no lugar ela ficou frustrada, pois o ônibus havia acabado de sair. A Sandra se sentiu tão para baixo que resolveu se sentar em uma pedra no chão. Feito isso ela olhou para o lado direito, e lá estava uma bolsa similar ao de seu sonho e...
Pobre Sandra...
Mais um ferimento cruel está a sua espera.
~ Fim ~
À partir da próxima semana, o espaço desta recém terminada série passará
Ao final da mesma, uma nova série será aqui publicada.
Grato por sua atenção e por ter acompanhado
"Ferimento Cruel" até o fim, nobre visitante.
Foi a primeira aventura de minha pessoa com uma
história episódica, e espero que a mesma possa ter
sido de vosso agrado.
Até a próxima!
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Um pouco sobre o autor do NETOIN! Mais!