segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Devaneio Mental no sertão brasileiro...

Se fez chegar mais um Devaneio Mental...

Saudações, visitante. O NETOIN! Mais! inicia oficialmente a sua jornada neste ano de 2013. E com ela chega a segunda temporada da série de posts desta seção, os Devaneios Mentais. E os trabalhos do ano novo irão começar com um conto carregado por um drama real, onde a ficção pouco aparecerá.

Imagine-se no sertão nordestino. Procure pensar que você vive em uma das piores áreas possíveis desta região, onde o calor chega à ser desgastante e a água é encontrada em condições deploráveis de consumo. Um cenário nada animador e pouco reconfortante.

Agora, sinta-se na pele de uma garotinha de oito anos de idade, que vive sob tais condições e que, por muitas razões além do calor e da seca, não pode realizar anseios mais simples como estudar. O cenário é realmente algo muito presente para muitas pessoas, infelizmente.

Amigo visitante, aprecie o conto à seguir que usará da seca no sertão nordestino como alicerce e dos pensamentos de uma jovem garotinha como tema para reflexão. Sinta-se à vontade e faças uma boa leitura.



#12 - Da agonia à busca por dias melhores...

Um sonho no sertão...

Uma dor, uma agonia e uma esperança...

Era uma manhã como outra qualquer. Em meio à uma elevada temperatura logo ao raiar do dia, lá estava a pequena Clementina já acordada. A garotinha morava em uma pequena casa de pau-a-pique, junto de seus pais e mais dois irmãos mais novos do que ela..

A morada de Clementina era encravada no meio de um vasto e plano terreno, localizado no meio do sertão nordestino, perto de um tipo de uma tríplice fronteira entre os Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Aquele local ficava muito distante da cidade mais próxima e, mesmo ela, ainda passava por vários problemas com abastecimento de água e com estoque de alimentos. Já é possível notar que a vida da pequena Clementina não era das mais fáceis.

Com seus sete anos de idade a garotinha não tinha condições de ir estudar. Passava os dias a cuidar de seus irmãos mais novos e também em ajudar os seus pais a preparar todo aquele terreno par alguma plantação. O pai de Clementina ia ao banco da cidade mais próxima uma vez ao mês para sacar o dinheiro de sua aposentadoria (por invalidez, vítima de um grave acidente no arado em épocas passadas), que não era de valor muito digno. Sendo a única fonte de renda era com aquele miúdo dinheiro que a família de cinco pessoas procurava viver.

A mãe de Clementina era uma mulher surrada pela própria vida. Casou-se muito tarde e teve três filhos. Na quarta gestação algo ocorreu em seu organismo, desfazendo qualquer possibilidade de ela gerar novas crianças daquele ponto em diante. A rotina diária deste casal é movida pelo sonho e pela perseverança.

~ uma realidade ~

O pouco que Clementina sabe escrever ou contar vem dos ensinamentos de seu pai que, uma vez ou outra, tira algum tempo para passar à sua filha mais velha um pouco de conhecimento estudantil. A criança sempre sonhou em poder ir para a escola, mas sempre foi impedida em razão de não existirem escolas rurais próximas, e também pelo fato da cidade a mais curta distância ser ainda deveras distante de seu lar. Pagar por uma condução era inviável.

Em sua rotina, Clementina tinha muitas tarefas á cumprir. Além de cuidar de seus irmãos mais novos e de ajudar seus pais no terreno, a garota tinha também que buscar água no açude mais próximo, que ficava à cerca de três quilômetros de sua casa. Fazia muita força ainda pequena e procurava se sentir bem assim.

Em certa oportunidade, Clementina chorou copiosamente no pé do açude. Além do cansaço em seu pequeno corpo, a garota mostrava-se cansada de tudo aquilo. Suas lágrimas misturavam tristeza e incerteza. Havia também um pouco de agonia e aflição naquele sentimento de momento, durante aqueles poucos minutos nos quais a garota esbravejou para o mundo todo ouvir, como se tirasse um grande peso de sua consciência.

Após muito chorar, ela se deixou olhar para o céu. Viu as nuvens formarem-se gentilmente, naquela tomada azul que ia de leste à oeste acima de sua cabeça. Clementina ainda tinha lágrimas caindo quando notou que as mesmas nuvens se aglomeravam muito rápido, graças a ação do forte vento daquela tarde. A jovem não se permitia piscar os olhos. Queria muito vivenciar aquele momento que poderia significar chuva...

~ uma esperança ~

Sim, uma receptiva chuva era tudo que a Clementina queria para tentar apaziguar as suas mágoas. Já se fazia longos quatro meses que uma gota de água não caia do céu, e a garota estava tão afoita com isto como o restante de sua família. Ela queria não mais levar daquela água suja e barrenta para a sua casa, queria poder estar com seu jarro de barro completamente cheio de um líquido incolor e sumariamente importante para todos.

Com um trovão, a pequena Clementina se permitira sorrir. Um momento de felicidade plena nascia ali. Era a chance que faltava para ela, a pequena garota que vivia em meio ao sertão nordestino, ver um de seus mais tenros sonhos se tornar realidade. E parece que, naquele instante, alguém fez questão de ouvir os pensamentos e o coração da pequena menina.

A chuva caiu forte. Não era torrencial, mas era bom o suficiente para fazer com que Clementina dançasse naquele judiado solo enquanto a água caia sobre o seu pequeno corpo. Não demorou para que aquele grande jarro se enchesse com muita água da chuva. Rindo de felicidade plena, Clementina levou com as suas pequenas mãos (como fazia todo dia) aquele jarro para a sua casa, mas desta vez repleto de água límpida, nada que lembrasse aquele líquido barrento com o qual os alimentos eram preparados e, doravante, os banhos tomados.

A chuva durou quase uma hora inteira, algo simplesmente impensável de acontecer naquela região. Pisar naquele solo tão judiado, mas desta vez amolecido pela força da água, parecia ser um verdadeiro salão de festas para Clementina. A garota, agora, chorava de felicidade, ajoelhada ao chão e para ele olhando, naquele tenro sonho por dias melhores. Mas o tempo foi cruel com Clementina e sua família...

Passaram-se duas semanas desde que aquela chuva havia caído. Muito embora o céu ficasse repleto de nuvens em dados momentos, a água cismava em não cair. Às vezes, pequenas gotas caiam e evaporavam assim que chegavam ao solo. Era uma realidade com a qual aquelas pessoas, aquela família, a própria Clementina, tinham que lidar dia após dia. Parecia ser um segmento sem fim...

~ uma certeza ~

Mais alguns dias se fizeram passar e lá estava a Clementina, naquele mesmo açude, com aquele jarro inseparável, pronta para pegar daquela mesma água e levá-la ao seu lar, para as necessidades de seus pais, de seus irmãozinhos e dela mesma.

Clementina não queria mais chorar. Seus olhos, agora de uma menina com nove anos de idade, eram de alguém que já dava sinais de perda da esperança por dias melhores. Por dentro lhe corroia uma vontade de esbravejar para todo o planeta, uma vez mais, aquilo que os poucos parecia “lhe matar” por dentro.

A garota pegou daquela água, que já não estava tão barrenta (graças aos poucos chuviscos que caíam de momento em momento, durante um certo intervalo de dias) como outrora e a levou para a sua casa. No caminho, Clementina avistou um animal morto à beira da estrada. Viu as poucas plantas que custavam a sobreviver estarem chegando ao seu fim, pouco á pouco. A cada passo no chão um tanto de pó proporcional se levantava do solo. Um cenário desolador.

Ver o rosto de sua mãe sorrindo ao chegar em casa deu apenas uma certeza para aquela menina de nove anos de idade. Para Clementina, o sonho e a esperança por dias melhores não poderiam ter fim. Se sua mãe ainda conseguia esboçar um gentil sorriso ao recepcioná-la, a garota pensou que ela mesma poderia fazer muito mais e não apenas pela sua mãe...

Viver sob tais circunstâncias não é algo que muitos agüentariam. Clementina sabia disto e, sentada do lado de fora de sua humilde casa, ela se deu ao trabalho de olhar para aquele céu. Tão acima de sua cabeça as nuvens começavam a esboçar mais um baile especial. Juntavam-se rapidamente, ao sabor e frescor do vento, cada vez mais carregadas.

Nos olhos da pequena Clementina, lágrimas começavam à descer por seu pequeno rosto, que apresentava um pequeno e singelo sorriso. E o ciclo continuava...


~ fin ~


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